quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O NOSSO VERDADEIRO INIMIGO

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O ego é uma necessidade. Quando ele está sadio, ele permite à pessoa colocar-se no lugar das outras, ter empatia e viver em harmonia com os outros egos. Quando ele não está sadio, o medo predominará em suas relações: medo da morte, medo do sofrimento, medo de não ser amado, medo da rejeição, medo de não ser ninguém, etc.

Se em uma sociedade predominar a existência de muitos egos não sadios, ela forçará a criação de pessoas com egos que sirvam para a manutenção das necessidades dessa sociedade não feliz. Ela não estará interessada no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhes que você se torne uma peça eficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão. 

terça-feira, 7 de outubro de 2014

O SALTO QUÂNTICO

Um dos mais populares conceitos da área quântica que foi utilizado por outras áreas é o chamado “salto quântico”. O termo técnico dentro a Física faz referência a uma mudança de camada que o elétron faz, de forma abrupta, entre uma camada e outra. É tão rápido que não se consegue localizar a sua posição durante essa transição (Capra, 1992). É como se ele desaparecesse em um local e aparecesse repentinamente em outro. Essa passagem rápida de uma situação para outra ou o chamado salto, é um termo que, como “operador conceitual”, serve também para representar uma pessoa que muda de uma condição psicológica para outra muito rapidamente realizando um salto psíquico.

São inúmeros os possíveis exemplos de adaptação dessa terminologia da Física como, por exemplo: 1-alguém que torturava animais e passa a amá-lo e defendê-los; 2-alguém que tinha algum vício e passou por alguma experiência emocional forte que o deixou completamente mudado em relação a seu comportamento anterior; 3-casos clássicos de conversão cristã como o caso de Saulo que perseguia e assassinava os cristãos e depois de uma forte experiência de amor, converteu-se ao cristianismo. Com a nova identidade de Paulo ele passou a ser um deles e foi perseguido e assassinado por isso; 4- criminosos que hoje são líderes religiosos autênticos e honestos; 5-antigos caçadores que hoje são guias turísticos e defendem o meio ambiente em que vivem; 6-pessoas que fazem algum tipo de terapia psíquica e mudam completamente seus estilos de vida, 7- famílias que sofrem tragédias e montam ONG’s em defesa daquilo que sofreram; 8-experiências individuais de quase morte; 9-algumas terapias de regressão psicológica, dentre outros.

Em todos os casos há uma repentina e rápida expansão de consciência e a pessoa parece ter realizado realmente um salto de qualidade extraordinário. Em resumo, elas deixam sua antiga condição egocêntrica e passam a ter uma super empatia e a amar mais as outras pessoas, os animais e o meio ambiente como um todo. Normalmente, elas saem da condição de infelizes para estados crescentes de felicidade.

EGONORÂNCIA

De tudo o que já se sabe do EGO humano é importante definirmos a que parte desse conhecimento estaremos nos referindo. No presente texto, o “ego” será compreendido como a imagem que fazemos de nós mesmos através das experiências com os outros. O termo Egonorância (Egoísmo + Ignorância) faz referência ao comportamento egoísta (egocêntrico) associado à ignorância de como a natureza é e se comporta (leis que regem o universo).

Sobre a formação do ego humano pode-se resumidamente afirmar que o ego pode ser considerado como sendo ele, uma construção social. Em nossas primeiras experiências com nossa mãe, ela refletirá quem somos (amados ou rejeitados), na escola o professor refletirá quem somos, os colegas dirão quem somos, a sociedade retornará para nós uma imagem de como ela nos vê e assim por diante.

O ego é uma necessidade. Quando ele está sadio, ele permite à pessoa se colocar no lugar das outras, ter empatia e viver em harmonia com os outros egos. Quando ele não está sadio, o medo predominará em suas relações: medo da morte, medo do sofrimento, medo de não ser amado, medo da rejeição, medo de não ser ninguém, etc.

Se em uma sociedade predominar a existência de muitos egos não sadios, ela forçará a criação de pessoas com egos que sirvam para a manutenção das necessidades dessa sociedade não feliz. Ela não estará interessada no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhes que você se torne uma peça eficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão. ).
Então nós não somos os nossos egos? Sim. O ego é uma imagem provisória que fazemos de nós mesmos através da influência da convivência. Ele é uma ilusão da mente. Essa ilusão deve ser temporária e precisa seguir a lei universal da transformação. Nós somos muito mais do que os nossos egos.

Entretanto, o desenvolvimento ideal de um ego seria o seu surgimento na infância e a sua transcendência na vida adulta. O fato é que nem todos conseguem transcendê-lo e ficam presos a estágios anteriores. Ilusoriamente, acreditam que são os seus egos e fazem tudo para conservá-los.

A lógica dessa manutenção “egóica” será tentar sentir-se o centro de tudo, ficar o mais forte possível e evitar todas as ameaças de destruição do ego. Pessoas assim ficam presas às primeiras fases do desenvolvimento do ego, não evoluem, não se libertam e não experimentam a felicidade que existe além dos limites do ego.

Infelizmente, a nossa história está repleta de pessoas que não superaram as fases infantis do desenvolvimento do ego e, quando cronologicamente adultas, causaram inúmeros problemas em suas sociedades. Elas só viam as suas necessidades egoístas e ficaram cegas para os outros e para a natureza. Nos exemplos que seguem examinem alguns tipos de comportamentos egocêntricos (egoístas) e constatem a importância de darmos mais atenção a essa parte da mente humana. Ela determinou a maioria dos fatos importantes da nossa história em nosso planeta. Agora podemos dizer que não somos mais ingênuos e se continuarmos deixando o ego humano fazer o que quiser conosco, nunca sairemos dessa armadilha chamada ego (adoecido).

O EGO HUMANO E AS CONSEQUÊNCIAS DO EGOCENTRISMO

Em um breve resumo histórico, pode-se constatar que o começo da ciência moderna foi precedido e acompanhado pelo pensamento filosófico que levou a humanidade a uma formulação extrema do dualismo espírito/matéria. Descartes (1976) via o Universo como sendo dividido em dois reinos distintos: o da mente (res cogitans) e o da matéria (res extensa).

Atribui-se a Descartes, marco da filosofia moderna, o método de avaliação, que utiliza o procedimento da dedução e persiste até hoje na rotina científica. Utilizando a linguagem matemática, Descartes converteu o mundo material a uma imensa máquina. Para ilustrar sua ideia usou como exemplo a imagem de um relógio. Diante de qualquer defeito neste “relógio”, ou seja, no mundo, bastaria trocar a peça defeituosa (Descartes, 1976). Dessa forma, nasce o reducionismo que viria a nortear toda a ciência ocidental (Capra,1998).

Se foi nos sonhos do dia 10 para o dia 11 de novembro de 1619, com 23 anos de idade, que Descartes percebeu a possibilidade de criar a ciência “definitiva” utilizando a matemática, foi acordando de um sonho, quando uma maçã caiu em sua cabeça, que Newton teria seu famoso insight despertando para a lei da gravidade. Não sendo filósofo, este físico inglês nasceu 23 anos após os sonhos reveladores de Descartes e teve a interpretação de sua obra como base filosófica no século XVII (Capra,1998).

Sob a influência deste recortado referencial dito racionalista, Newton desenvolveu a sua famosa Teoria Mecânica, que foi o principal fundamento da física clássica. Nela, o mundo era entendido como um conjunto de partes isoladas e independentes, regidas por leis previsíveis numa dimensão de tempo linear. Em seu conceito de tempo, ele se deslocaria do passado, percorreria o presente e se direcionaria para o futuro. Um sentido direcional também chamado de “flecha do tempo” (Grof,1987; Capra,1998).

Stewart (1991) comenta que Newton também se referia ao universo como uma máquina. Nesta visão, uma máquina é acima de tudo previsível e “sob condições idênticas fará coisas idênticas”. Segundo este autor, os cientistas do século XVII e XVIII foram compelidos a pensar assim, diante de um universo tão cheio de encantamentos e surpresas.

Torna-se importante então, esclarecer que o termo newtoniano-cartesiano deverá ser entendido como representante de uma percepção da realidade composta por inúmeras partes separadas, independentes umas das outras e regidas por leis fixas (Souza, 1998).

Essa percepção fragmentada (newtoniano-cartesiana) tem gerado inúmeras consequências para a humanidade. Dentre todas, as consequências que, a nosso ver, merece muita reflexão, e nesse caso é muita mesmo pelo resto de nossas vidas, é a consequência descrita por David Bohm:

“A não percepção da realidade como algo único e unificado, fragmentando o mundo e ignorando a interligação dinâmica de todas as coisas, seria o erro de percepção responsável por muitos dos nossos problemas, não só na ciência, mas em nossa vida e em nossa sociedade. Se utilizarmos uma visão geral do mundo como constituído de fragmentos independentes, então é assim que a nossa mente tenderá a operar.”                                                                      Bohm (1998, p.17)

            Capra (1994, p.93) também tenta explicar afirmando que:

 “O fato decisivo é que, todas as vezes que você delineia uma parte e a separa do restante, você comete um erro. Você isola do todo algumas das interligações física ou conceitualmente, e diz: ‘Isto agora é o que eu chamo de parte’. Sei que ela está ligada deste e daquele modo ao resto, mas não posso levar em consideração todas essas ligações , pois isso se torna complicado”. Por isso, elimino algumas delas no processo de delinear a parte.” (Sem grifo no original)

 O certo é que, há várias décadas, a transição da visão fragmentada para a visão sistêmica está em curso e todas as áreas do conhecimento, conscientes ou não das origens e consequências dela, estão sendo obrigadas a rever seus núcleos paradigmáticos e a dar novas respostas tanto à própria comunidade científica quanto à sociedade como um todo.


Como ilustração útil que sirva como disparador de um processo de aprofundamento, poderemos utilizar a imagem do navio naufragando em alto mar.

Imagine a seguinte situação!

O maior e mais sofisticado transatlântico do mundo está com inúmeros problemas e teremos que eleger uma hierarquia entre eles para resolver primeiro os mais importantes. Os passageiros são cientistas que estão em um congresso multidisciplinar em saúde e os problemas apresentados foram: surto de diarreia por comida estragada, pane na internet, roubo de joias em vários cofres das cabines, um furo no casco e graves oscilações na corrente elétrica da casa de máquinas com risco de incêndios. Ao saberem dos problemas, cada um teve a sua própria ideia: 1-os epidemiologistas resolveram esvaziar todo o estoque de vacinas e imunizar a tripulação e os passageiros; 2-o pessoal de informática tratou de impedir que as linhas de internet ficassem congestionadas devido ao excesso de uso; 3-o pessoal de marketing fez uma pesquisa de opinião e concluiu que 63,3% dos entrevistados estavam com medo de morrer; 4-os psicólogos montaram ambulatórios de emergência para reações depressivas e os médicos iniciaram uma distribuição de medicação tranquilizante com o patrocínio do laboratório “x”; 5-os repórteres começaram a realizar transmissões ao vivo para a sua emissora, denunciando o problema batendo recordes de audiência; 6-os advogados já estavam processando a empresa e pedindo indenizações milionárias; 7-os políticos prometeram que iriam resolver tudo e davam entrevistas nos corredores; 8-os religiosos montaram vigílias de oração para pedir a Deus uma salvação; 9-os criminosos começaram a arrombar os cofres também da tripulação; 10-os voluntários começaram a montar equipes de ajuda para as crianças e idosos; 11-os preguiçosos, não acreditaram e voltaram a dormir; 12-o comandante do navio pediu ajuda a todos pelo sistema de som, mas teve que ir sozinho até a sala de máquinas para tentar fechar o furo no casco. Se você estivesse nesse navio, qual seria a sua prioridade? O que você teria feito?
Perceba que cada um só fazia o que sabia e o que estava acostumado a fazer. Ninguém conseguia captar o problema principal e mais urgente, que era o furo no casco. Se o navio afundasse, todos morreriam e as múltiplas ações não serviriam de nada, mas cada um, limitadamente, só via a si mesmo e o que sabia fazer (foram educados e viveram suas vidas de forma fragmentada alem de demonstrarem muito apego ao seu saber projetando-os na situação geral como o mais importante). Se as pessoas tivessem percebido qual o principal problema no navio, teriam agido de forma mais coesa e precisa. Se o comandante tivesse tido a ajuda certa, nenhuma das outras atitudes dos passageiros seriam realmente necessárias para resolver o principal problema que estava ameaçando a sobrevivência de todos (a água entrar, afundar a embarcação e todos morrerem). Em urgências, como convencer pessoas “segmentadas” a fazerem algo diferente em prol do mais importante?
Por analogia, podemos dizer que o nosso planeta é o nosso transatlântico e que o nosso verdadeiro problema está sendo a nossa forma de pensar. É o nosso software biológico mental que está “furado” pelo egoísmo (egocentrismo) e o comandante está pedindo a nossa atenção para o problema. Por aonde se chega ao software mental? Pela educação, pela mídia, pela espiritualidade comum a todos e pelas religiões exercidas de forma sábia, pela genética, pela cultura, pelo trabalho, pelo lazer, por toda a atividade humana.
Quando tentamos resolver qualquer problema nós nos deparamos com duas dificuldades básicas: o baixo nível de informação fragmentada e, também, sistêmica dos integrantes e a necessidade de mudança de comportamento de todos os envolvidos. O nível de informação se resolve com estudos e como se resolve o problema da mudança de comportamento?

Ao examinarmos essa questão, permitam-nos fazer uma analogia facilitadora com a área de Informática. Supondo que o corpo humano seja um biohardware (parte física) e a mente seja um biosoftware (programa de informações), o software mental humano possuiria um sistema operacional chamado EGO e nele caberiam muitos outros programas mentais.

O sistema operacional Ego seria útil para o seu usuário se posicionar no mundo e se distinguir dos outros egos. Entretanto, um subprograma chamado EGOCENTRISMO (ou Egoísmo), informaria ao sistema operacional Ego, que ele deveria sempre privilegiar a ele mesmo em detrimento de qualquer outra coisa. TUDO deve ser realizado para a sua sobrevivência e para o seu engrandecimento sem nunca precisar se colocar no lugar do outro por que o outro é um ser inferior e só serve para lhe admirar e lhe servir. Se o outro sentir alguma dor, sofrimento ou perda isso não terá nenhuma importância. A única coisa que importa é o que eu sinto e mais nada.

De forma breve, mas necessária, pode-se dizer que o Ego (eu) é um termo empregado na Psicologia e na Filosofia para designar a pessoa humana como consciente de si e objeto do pensamento (Clément, 1994). Nas bases da teoria psicanalítica, de forma resumida e simplificada, pode-se dizer que Sigmund Freud colocou o conceito de ego como sendo uma instância psíquica dentro de íntimas relações com outras duas: o “id” que seria a parte da mente responsável por estimular o princípio do prazer e o “superego” que representaria as exigências da realidade relacional ou a parte da mente direcionada para a moral, embutida de todos os valores da sociedade em que vivemos (Doron, 1998; Hanns, 1996 ).

           Em nosso desenvolvimento psíquico o superego forma-se após o ego e divide-se em dois subsistemas: o ego ideal, que dita o “bem” a ser procurado; e a consciência moral que determina as “coisas erradas” a serem evitadas. Dessas três estruturas, somente o ego aparece em outras teorias. O id e o superego são próprios da psicanálise.
As relações entre o “id”, o “ego” e o “superego” se dão, em sua maior parte, de forma inconsciente. Isso quer dizer que, segundo a psicanálise, elas acontecem dentro da nossa mente e nós não sabemos tudo o que está sendo movimentado e decidido. De fato, o mundo exterior nos impõe, desde criança, pequenas proibições que provocam o recalcamento e a transformação das pulsões, na busca de uma satisfação substitutiva que irá provocar em nosso “eu”, um sentimento de desprazer. O ego representa o que pode ser chamado de razão e senso comum, em contraste com o id, que contém as paixões. Nesse caso, o princípio de realidade substitui o princípio de prazer. O “eu” se apresentaria então, como uma espécie de mediador entre os conflitos do aparelho psíquico que duram por toda a nossa vida (Hornstein, 1989; LOEWENSTEIN, 1981).

Já para Carl Gustav Jung o ego é o centro da consciência, mas não é a consciência. Ele será uma reunião de ideias e afetos em torno de um núcleo temático comum – o complexo da identidade de “eu” ou o chamado Complexo de Eu. O Ego, segundo Jung, reúne tudo o que sabemos de nós mesmos somando todas as ideias, afetos e imagens relacionadas ao “Eu”. Para Jung, o que identificamos como sendo “não-eu” formaria a nossa parte que ele chamou de “sombra” (Jung, 1996).

De forma geral pode-se dizer que no “ego” reunimos nossos valores e nossa auto-imagem. A grande maioria dos problemas do dia-a-dia se dá por uma má sintonia entre essas questões e a realidade social cotidiana.

Uma pessoa orgulhosa, por exemplo, é vista usualmente como sendo uma pessoa forte diante dos outros. O orgulho é uma auto-admiração e em termos psicológicos, é um caminho de retro-alimentação das energias do ego. Quanto mais orgulho, maior é a força de um ego. Como uma espécie de blindagem, uma pessoa orgulhosa acaba não vendo seus próprios erros ou não admitindo novas possibilidades ou qualquer coisa que venha de fora ou que ameace a pseudo integridade do seu ego.

Essa rigidez pode levar a algo bastante negativo. Se tudo no universo está em constante transformação o tempo todo, inevitavelmente, as mudanças que a vida vai exigir das pessoas de ego “forte” o levará a sofrimentos por ter que mudar sem ser por sua vontade e decisão. Ela sofre, justamente porque não quer se desfazer da imagem construída por seu próprio ego (apego). E é aí que nós nos tornamos nossos maiores inimigos e passamos a ser danosos à sociedade.

Nesse contexto surge o valor da humildade. Ela possui a característica de descontrução/reconstrução do ego. Uma pessoa humilde conseguiu diminuir a energia contida no ego permitindo que outras coisas possam vir à tona. Certamente, é necessário utilizar menos inteligência arrogante e mais sabedoria expansiva libertadora para se deixar fluir as transformações inerentes à vida.

Portanto, de transformação em transformação as pessoas que se adaptam às circunstâncias e libertam-se da opressão que a manutenção do ego exige, vão crescendo em estados de felicidade. Quanto mais ela conseguir sair de dentro de si mesma e se colocar no lugar do outro, mais harmonia ela vai gerando no ambiente em que vive. Quanto menos egocêntrico, melhor.

Sendo muito mais diversa, mais complexa e muito mais antiga do que a nossa, a filosofia oriental prima pelo sentido de unidade entre todas as coisas que existe. A percepção fragmentada das coisas é uma barreira no desenvolvimento evolutivo do ser humano. Dito e explicado de várias formas no Budismo, no Taoismo ou no Hinduísmo, o conceito de unicidade entre pessoas, animais, vegetais, planetas e galáxias só pode ser compreendido quando for também vivenciado pela pessoa que busca evolução.

E é justamente aí que podemos observar uma grande diferença entre oriente e ocidente. Do ponto de vista ocidental nós nos preocupamos muito mais com o compreender do que com o vivenciar e sentir. A nossa relação com as leis da natureza privilegia a cognição, o saber, o compreender e talvez por isso é que não estejamos vivendo de forma feliz apesar de já sabermos tanto sobre tantas coisas (Osho, 2014; Rinpoche, 2014).

É interessante praticar alguns tipos de autoconhecimento sugeridos por outras culturas como: meditação, yoga, taichi, dentre inúmeros outros e escolher aquele que melhor satisfaça as suas atuais necessidades. Certamente, as necessidades vão mudar e pode-se mudar, também, o tipo de vivência. Entretanto, em todos os momentos precisamos ter foco e ação.  O ideal é que essas vivências estejam dentro de um grupo terapêutico ou haja alguma terapia ou psicoterapia (individual ou em grupo) em paralelo para dar suporte resultando em um maior proveito das experiências cognitivas e vivenciais em direção à maturidade da unicidade. 

Toda evolução é útil, mas não podemos nos contentar com pouca evolução. Se comparássemos a evolução com uma escala imaginária de 0 (zero) a 100 (cem) em que o zero representasse a pessoa mais egoísta e egocêntrica do mundo e o número cem representasse a pessoa mais altruísta e feliz do mundo, evoluir, por exemplo, do estado 3 para o estado 4 ou evoluir do estado 93 para o estado 94 seria, em ambos os casos, algo extremamente louvável e merecedor de todos os méritos pelo simples fato de que a pessoa conseguiu melhorar a sua própria evolução. Entretanto, se comparássemos uma sociedade comporta apenas por pessoas com grau 4 de evolução com uma sociedade composta apenas por pessoas com grau 94 de evolução, certamente, teríamos duas sociedades bastante diferentes. Na primeira, reinaria a corrupção, as guerras e assassinatos, o roubo, a fraude, a mentira, as ditaduras ou a infelicidade social disseminada. Na segunda, constituída por pessoas mais evoluídas,  predominaria a justiça, o respeito, a verdade e o estado de felicidade crescente.

Cargos de decisões econômicas e/ou legislativas, cargos que gerem ideias para a população na mídia ou na Educação devem ser ocupados pelas pessoas de maior evolução de uma sociedade e não o contrário. Apenas o nível de conhecimento técnico, carisma pessoal ou nível de influência social não devem ser os únicos fatores a eleger alguém para assumir responsabilidades pela qualidade de vida das outras pessoas. Quanto menos ego melhor. Quanto menos egocêntrica e mais bem informada, mais evoluída será uma pessoa.

Os mais evoluídos devem governar os menos evoluídos. Os menos evoluídos devem lutar com unhas e dentes pela sua evolução individual e coletiva. Juntos, todos precisam evoluir cada um em seu grau e em sua velocidade. Para isso, os mais evoluídos precisam proporcionar todos os meios possíveis para que todos cresçam e não desperdicem suas inteligências e suas existências.

Do ponto de vista prático, por exemplo, os currículos escolares precisam abordar, além das disciplinas oficiais, questões contextualizadas da evolução humana com uma linguagem adaptada para cada nível (do berçário à pós-graduação).

Para quem entende que a vida possua algum tipo de continuidade, o fruto do que se faz, ou não, nessa vida levaria a consequências no resto dela após a nossa inevitável morte. Para quem não acha ou prefere não achar nada sobre a continuidade da vida, o momento presente é a única coisa que existe. Portanto, por um motivo ou por outro, porque não ser mais e mais feliz, mais livre e criativo agora mesmo independente do que o futuro nos reserve? E se todos os futuros forem possíveis para cada um?

Não se contente com seus atuais pensamentos e reflexões cotidianas. Pense mais, observe mais, sinta mais, converse mais, leia mais, viaje mais para outras culturas e lugares diferentes do seu. Uma vez, em profunda meditação, recém-formado e trabalhando com pacientes terminais de Câncer e HIV/AIDS, decidi perguntar ao universo (pensando em Jesus) o que viria do outro lado da vida quando eu morresse. A resposta surgiu em minha mente com a seguinte frase: se Eu quiser, Eu posso criar uma galáxia dentro de um átomo ou bilhões de anos dentro de um segundo só para você ir vivenciar o que você mesmo acredita. Quase duas décadas depois, estudando as teorias quânticas sobre universos paralelos percebi a possibilidade de outras realidades paralelas poderem existir mesmo. Passei então a respeitar melhor as minhas crenças mentais por que tanto o meu presente quanto o resto da minha vida, poderá depender do que acredite ou não hoje.

Até que ponto a nossa mente tem o poder de criar a realidade? Esse é um campo que está sendo bastante discutido entre os atuais futurologistas. A preocupação imediata é: quais são os pensamentos gerados pelas pessoas ao meu redor (minha rede)? O que a mídia está implantando na mente das pessoas hoje? O que a Educação propicia como alimento para as nossas mentes? Por que o Ministério da Saúde faz nada em relação aos pensamentos coletivos se boa parte da nossa saúde depende deles? Existiria alguma responsabilidade social nos meus pensamentos individuais? Nas minhas emoções cotidianas egocêntricas?

A emoção que predomina em todas as atividades do egocentrismo é o medo. O medo de não ser ninguém, o medo da não-existência, o medo da morte. Todas as suas ações, enfim, destinam-se a eliminar esse temor. Dessa forma, o máximo que o egocentrismo consegue fazer é encobri-lo temporariamente, seja controlando situações, adquirindo um novo bem ou tendo um bom desempenho numa coisa ou noutra. A sensação de “poder” engana o ego e o apego termina por ser a sua lógica existencial. Na verdade, o ego termina vivendo numa bolha de ilusão porque tudo se transforma o tempo todo no universo e ele não que ver isso.

É plenamente possível se pensar nos problemas sem se pensar em soluções, mas é impossível se pensar em soluções sem se conhecer os problemas. Inevitavelmente, a complexidade da solução é bem maior.

Toda solução vai precisar de recursos de todos os tipos, legislação, participação interdisciplinar, mudanças em cargos de poder, dentre outras inúmeras coisas. Toda solução precisa, também, de mudança de comportamento e é justamente aí que entra o lidar com o Ego (individual e coletivo) e com o comportamento egoísta (egocêntrico).

Quando duas pessoas competem, a vitória será sempre a do egocentrismo, na vaidade do vencedor, (também perdedor) e na sensação de humilhação do perdedor (“duplamente” perdedor) mas quando alguém luta contra o seu próprio egocentrismo, o vencedor será um dos dois (ou a pessoa que fica livre com sua autonomia preservada ou o egocentrismo escravizou mais um “adormecido”). Quanto maior o egocentrismo, mais gravidade ele gera e mais ele atrai as coisas para si. Dessa forma, ele vai aumentando a cada experiência que tiver com outros egos. Simultaneamente, todos os egocentrismos de todos os egos passam a se achar os melhores, gerando uma competição, mesmo que para isso necessitem subjugar os outros, enganá-los, iludi-los, afastá-los ou até mesmo tentar destruí-los.

O que você acha que aconteceu com os grandes conquistadores da história? Eles foram heróis ou grandessíssimos egocêntricos que matavam e roubavam para aumentar seus impérios (seus egos)? O que você acha que acontece com os países ricos que exploram economicamente milhões de outras pessoas pelo planeta só para usufruírem de conforto? Por que será que a espécie humana utiliza as outras como alimento, vaidade, diversão sem respeito algum pela coexistência deles? E quanto ao nosso relacionamento com o meio ambiente? Precisaria comentar? Nós ainda nos consideramos o centro do universo. Achamos que somos os melhores e estamos aqui para satisfazermos todos os nossos desejos.

Cada ego precisa sentir-se diferente e melhor que os outros. Por isso, criamos repetidas e conhecidas situações como, por exemplo, a mentira, o roubo, a dominação, a persuasão, a corrupção, a ameaça, o crime, o engano proposital, a manipulação, a distorção dos fatos, a escravização, a inconsciência, o disfarce, a omissão (consciente ou não) e dezenas de crenças que o fazem ser considerado, erroneamente, como o melhor e mais inteligente caminho. Sem dúvida, precisamos de uma higiene mental diária e do evitar contaminações constantes para que essas situações não predominem em nossa parte mental. Certamente, muitos dos nossos problemas físicos e sociais são consequências diretas desses estados mentais não higienizados.

Quem foi o “programador” que fez (ou ainda está fazendo) o software mental humano? O egocentrismo é um software mental tão eficiente que parece ter a capacidade de programar-se e perpetuar-se por gerações e gerações de seres humanos (seus hospedeiros).

Pode-se até achar que tudo de que precisamos para nos livrar dos problemas gerados pelo egocentrismo é estarmos conscientes dele, uma vez que ele e a consciência são incompatíveis. Ou então, pode-se achar que o ego seria apenas um degrau indestrutível na escada da evolução, em que todos precisam passar por ele para poder continuar a evoluir.

Já morreram os piores egoístas da história da humanidade, já executamos alguns deles e os que estão vivos vão morrer em alguns anos. Nesse contexto, percebe-se que os usuários desaparecem, mas o software mental não. Precisamos, pela educação, criar egos mais saudáveis.

Portanto, não adiantaria pena de morte para todos os bandidos porque eles têm se sucedido ao longo da história. O que tem que desaparecer é a programação errônea do software mental ego, pois esta programação é a nossa principal e verdadeira inimiga, e não uns aos outros como o próprio egocentrismo quer que achemos para que ele fique trabalhando eternamente sem ser percebido ou flagrado. Analogamente, destruindo os computadores não se destrói o sistema operacional da empresa de softwares e nós, seres humanos, já nascemos com o ego (egocentrismo) instalado “de fábrica”.

Pequenas medidas de controle do egocentrismo têm surtido algum efeito como: criar leis, punir, vigiar, ameaçar, educar as pessoas, desenvolver espiritualidade, refletir, respeitar, amar, dentre outras. Ainda estamos dando muito poder às pessoas egoístas (em governos, empresas, lideranças religiosas, nos esporte, nas artes,...). Temos que desenvolver aparelhos para ler o pensamento deles enquanto estiverem em cargos de poder (a verdade liberta).

Os mais evoluídos (menos egocêntricos e mais bem informados) é que deveriam governar os menos evoluídos (mais egocêntricos).

Precisamos priorizar as nossas principais pesquisas e gastos humanos para solucionar os problemas causados pelo nosso próprio egocentrismo. Todos os outros investimentos se tornam menores (Armas, Medicamentos, Energia, Economia,...) diante da necessidade de “eliminarmos” a predominância do comportamento egoísta (egocentrismo). Ele é o maior gerador de problemas na humanidade e quando alguma solução aparece, ele aplica uma das suas principais metodologias: a preguiça mental. Embora negligenciada pela área “Psi”, ela, quando associada à autossabotagem, torna-se um dos principais instrumentos de monopolização de comportamentos do software egocentrismo sobre nós seres humanos.

Do mesmo jeito que o tamanho do furo no casco de um navio pode determinar se vai dar tempo para ele chegar ao estaleiro ou não, o tamanho do egocentrismo – que, como vimos, é o furo no casco da humanidade - pode determinar se vamos nos autodestruir ou não.

Nada está sendo mais importante: superar essa fase humana. O ego entrou em uma época e sairá em outra. Para isso, o nosso nível de consciência sobre quem somos e os propósitos da vida, precisam de constantes ampliações individuais e coletivas.

Seria interessante termos em mente que o nível mínimo seria a pessoa que só percebe a si mesma (o seu Ego é o centro de tudo) e o nível máximo seria quando a pessoa sente que seu Ego é o próprio universo (unicidade), transcendendo a si mesma. O termo “nível de consciência” é extremamente polêmico e pode ser estudado das mais diferentes concepções. Partindo das concepções de Grof (1987) poderemos estimar algumas considerações particulares para estabelecer três níveis mínimos de consciência: restrito, ampliado e expandido.

Nível Restrito: nesse nível, a pessoa só consegue pensar nas coisas imediatamente próximas a ela ou naquilo que os seus sentidos captam. Ela será inteiramente egocêntrica, quase não pensará no bem-estar das outras pessoas e perceberá o mundo como sendo apenas o seu mundo. Ela é muito passiva aos acontecimentos (visão segmentada). É no nível restrito que se encontra a maioria das pessoas. A maior parte da população mundial não vive, luta pela sobrevivência e são totalmente escravas da mídia que termina por não perceber o quanto são prejudiciais as diárias e constantes cenas de morte, dor, angústia, opressão, sofrimento e medo. Por elas não apresentarem soluções para os problemas que expõem, elas criam um gigantesco padrão de ressonância coletiva que adoece, de várias maneiras, as pessoas e a sociedade. Infelizmente, também se encontram nesse nível de consciência, boa parte dos políticos, que detêm o poder das leis e as verbas governamentais e a maioria dos empresários, que possuem e movimentam o capital.

Nível Ampliado: no nível dito ampliado, a pessoa já começa a se preocupar com as outras pessoas, emociona-se com os noticiários que mostram pessoas em situação de risco, etc., mas não consegue realizar nenhuma atitude em favor dos outros. Ela já não é tão passiva e tão manipulável pela mídia. Processa um número maior de informações e passa a ser crítica em relação aos acontecimentos. Por exigir mais das condições mentais do ser humano, quanto mais ampliado for o nível de consciência, menos pessoas farão parte desse nível.

Nível Expandido: no nível expandido, a pessoa chega a sair do seu mundo, vai até ao encontro das pessoas necessitadas e desenvolve, com elas, diversas ações de ajuda. Ela, além de ser crítica em relação aos acontecimentos, também parte para agir, mudar e fazer alterações significativas na história (pessoal e coletiva).

Esse nível comporta uma minoria de pessoas. Ele requer bem mais maturidade e desprendimento, inteligência, sabedoria, experiência e vontade ou sentimentos de amor e compaixão. Que bom seria que as pessoas que ocupam cargos de poder em nossa sociedade possuíssem um nível expandido de consciência.

Portanto, nesses simplificados três níveis que foram resumidamente descritos, percebe-se que viveremos melhor em uma comunidade que tenha menos mentes funcionando com o nível restrito e mais mentes que estejam funcionando no nível expandido.

É importante estarmos conscientes de que não basta elevar nosso nível de consciência e querer ser participativo, temos que ter informação e experiência para gerenciar os nossos complexos problemas sociais. Como por exemplo, precisamos substituir as nossas relações de exploração uns com os outros (entre classes sociais, entre os diferentes níveis intelectuais, entre países, etc.) e passar a nos relacionar com relações de parceria e mútua ajuda, distribuindo melhor a renda, o conhecimento e as oportunidades, dentre outras coisas.

Para identificarmos nosso atual nível de consciência, precisamos de menos ruídos, menos poluição visual e precisamos, também, de mais tempo para nós mesmos. O autoconhecimento é fundamental para realizar mudanças conscientes no ego. Nesse caso, o acaso não é a opção. Lidar com o ego é algo extremamente sério e difícil. Basta vermos o estrago que o egocentrismo já causou e ainda causa na humanidade. O ego recusa-se a acreditar que ele realmente não existe isoladamente de forma autônoma, que ele é uma criação mental nossa por que todos nós somos Um (não existem partes no universo). Para a compreensão disso precisa-se de dedicação e criatividade transparentes como a água (simples e fundamental para a vida). Entretanto, para estar sadia dentro de nós e fazer parte do nosso ser, ela precisa de qualidade.

O que você pode fazer agora mesmo por você (evolutivamente)? O que você pode fazer pela humanidade? Nunca deixe de fazer essas perguntas a você mesmo. Nunca deixe de fazer essas perguntas às outras pessoas. E se decidiu fazer alguma coisa... Faça!
Portanto, diante de tantas necessárias transições, as três principais prioridades seriam: 1-todos devem ter acesso à informação de qualidade. 2-todos os mecanismos do egoísmo humano precisam ser estudados e todos precisam saber como a sua mente inconsciente funciona (disso dependerá tudo). 3-as verdades precisam prevalecer. Dessa forma, quanto maior o nível de consciência em um maior número de pessoas, maior serão as probabilidades de sucesso. Quem ainda não sabe que estamos com um “furo no casco”, precisa saber. Quem só sabe fazer uma coisa, precisa aprender a fazer outras. Quem ainda não sabe alterar em seu próprio software biológico mental, precisa aprender a fazer isso. Quem se responsabiliza pela educação de outros, precisa atuar consciente do contexto em que estamos. A evolução não pode ser deixada ao acaso. Seremos ativamente conscientes.

Sem dúvida, não poderemos errar na escolha de prioridades. Se um dos problemas representar a destruição total, ele será focalmente o mais importante e urgente.


Figura_____: representação do ciclo dinâmico inseparável entre o estar vivo, ter qualidade de vida e evoluir infinitamente.

Portanto, primeiro precisamos interativamente estar vivos para depois pensarmos em qualidade de vida (em via de mão dupla). Do mesmo modo, não basta estar vivo. Precisamos dar sentido ao ato de viver. E um importante sentido para se evoluir é migrar do estado egocêntrico (apego exacerbado) para o estado de amor incondicional (desapego).

Não se concebe mais, um profissional da área de Saúde que trabalhe sozinho ou apenas com seus pares (fragmentação). Pensar e atuar em saúde é estar em equipe de Saúde prevenindo, diagnosticando, intervindo e promovendo alta de forma coletiva. O sucesso ou insucesso de qualquer intervenção devem ser creditados à equipe de trabalho e não a um dos profissionais.
 
Para as gerações futuras tudo vai ficando mais difícil pelo fato de disporem de um gigantesco número crescente de informações disponíveis, pela necessidade de maior processamento de grandes pacotes informacionais, pelo aumento da população, pela diminuição de recursos naturais, dentre outros. Certamente, os novos conhecimentos que serão gerados no futuro precisaram proporcionar, também, novas soluções.

Não é difícil prever que, pelo aumento progressivo e constante da velocidade de produção de conhecimento aliada a necessidade bem maior de processamento de informações e da existência de diferentes terminologias e linguagens entre as distintas áreas do saber, uma grande crise está por vir se as capacidades intelectuais humanas continuares as mesmas.

Precisamos sair da nossa “EGONORÂNCIA” (egocentrismo + ignorância) no sentido de deixar de achar que a nossa área do saber seja a mais importante e ignorar o como a natureza, em seu sentido mais amplo, realmente é e se comporta.

A INFORMAÇÃO é o maior patrimônio da humanidade e o autoconhecimento precisa fazer parte de todas as etapas de vida de uma pessoa. Assim como aprender disciplinas como, matemática, química, biologia, dentre outras, deverá ser parte integrante e obrigatória o autoconhecimento no sentido de que possamos, individual e coletivamente, assumirmos planos de evolução de diminuição do nosso e egocentrismo e evolução da própria espécie.

Certamente, um futurologista, diante de tantos avanços bionanotecnológicos informacionais, poderia concluir que a linguagem humana, como a conhecemos, entrou na espécie humana em um ponto e sairá em outro, mas enquanto isso não acontecer teremos que pensar em uma simplificação na linguagem utilizada por tantas diferentes áreas do saber que precisam interagir, agora cotidianamente. Para isso teremos que abandonar termos e neologismos para utilizar uma linguagem popular, mais conhecida e acessível a todos.

A sabedoria estará no simples e não no complexo. De forma geral, precisamos evitar neologismos complexos, precisamos utilizar a linguagem coloquial sem apego aos termos que apenas fornecem status e autoafirmam algumas áreas do conhecimento. É nosso próprio o egocentrismo que hipnoticamente nos diz: eu sei de alguma coisa que os outros não sabem; sou melhor que os outros; eu tenho um conhecimento que os outros não têm; eu quero o seu respeito pela minha capacidade de ter aprendido algo tão difícil; não dê opiniões na “minha” área porque você não entende nada; quer comprar o meu conhecimento? Eu fabrico dificuldades para vender facilidades.

Não aos “guetos” e sim à compreensão geral. Não às metodologias engessadas e sim às metodologias científicas que atinjam melhores resultados para as soluções. Se um método não serve, fique contra ele, crie outro e faça diferente (FEYERABEND, 1977). 

Uma das coisas que mais atrapalham a vida do egocêntrico é justamente a humildade. E isso não se ensina na escola junto com o conhecimento. Entretanto, ela será uma das ferramentas mais importantes para se colocar no lugar do egocentrismo. Apesar de complexas as soluções também pode ser simples.

Hoje, devido ao conhecimento dos conceitos de rede, interconexão e não linearidade, afirmar que se tem certeza sobre alguma coisa significa demonstrar aos bem informados o quanto se está pouco informado ou, ingenuamente, o quanto se está empolgado por uma área do conhecimento sem perceber as suas inúmeras interconexões com as demais (equívoco sincero). Como é a sobrevivência da nossa própria espécie que está em jogo, não poderemos ser ingênuos. 

Portanto, quem é de estudos macro que os estude e que é de estudos introspectivos que os estude. Tão importante quanto descobrir novas informações será descobrir novas formas de integração entre as que já possuímos. Assim como a simultaneidade de uma Sístole (contração do coração) e de uma Diástole (expansão do coração) que mantém a vida humana, nós sempre precisaremos da simultaneidade da introspecção (individual e coletiva)  e da macropolítica (em alternância contínua) porque ambos os movimentos se complementam e são necessários para a vida.

Do ponto de vista ideológico, temos que sempre questionar o fruto do nosso trabalho e o fruto da nossa ciência. Ela pode estar a serviço do egoísmo de governantes e/ou empresários. Temos que ter a versatilidade de sermos conservadores, reformistas ou revolucionários a depender da necessidade e/ou condição que alguma solução exija. Conservador preferindo que todo o sistema de relações sociais fique exatamente como está, o Reformista quando concordar com o sistema social vigente, mas queira fazer só algumas reformas nele mantendo o principal ou sermos revolucionários não concordando com o sistema vigente e propondo a substituição dele por outro explicando detalhadamente qual seria esse outro sistema (Demo, 1996).

Engana-se quem pensa que a atividade científica pode ser neutra. Ela é útil para alguém. Ela pode estar servindo para a egocêntricos realizarem a exploração de pessoas ou ajudando a resolver o problema da maioria. Como a ciência não é neutra, o papel da informação de qualidade que circula entre governos, empresas e entidades da sociedade civil passa a ser alvo de interesse econômico e político em que a ideologia subjacente será possibilitadora, em potencial, da formação e manutenção ideológica que, segundo Demo (1996), para os que estão no poder:

“cientista bom é aquele que se apropria de conhecimentos para dominar a realidade, mas é essencial que não seja crítico, o que faz da ciência, tendencialmente, produto conservador ou pelo menos útil à ideologia conservadora, na figura do idiota especializado: competente formalmente, tapado politicamente”. (grifo do autor).

Portanto, torna-se necessário ressaltar a importância da utilização da informação para a contínua educação política, para que pessoas, categorias profissionais ou teorias científicas não sejam utilizadas em benefício de grupos opressores de alto egocentrismo que só pensam neles mesmos e em mais ninguém. Por isso, o ser crítico deve perpassar tanto as decisões de eleição de prioridades quanto as decisões de gestão e avaliação de todos os programas públicos.  

É importante evidenciar que o conhecimento científico habita pessoas e, em nossa diversidade, pode-se encontrar diferentes personalidades, experiências culturais, interesses pessoais e políticos, diferentes posturas ideológicas e, principalmente, estados maiores ou menores de egocentrismo cuja atuação em rede exige certo grau de maturidade e evolução. Certamente, em uma equipe multiprofissional iremos encontrar diferentes posturas ideológicas (conservador, reformista ou revolucionário) e diferentes graus de egocentrismo ou benevolência.

Portanto, ao somarmos todos os aspectos aqui resumidamente abordados, o principal desafio do conhecimento parece ser a necessidade de integrar conhecimentos “criando” uma unidade (que sempre existiu), focar a utilidade do conhecimento para a solução dos problemas que criamos em nosso convívio e priorizar o que for mais urgente em termos de sobrevivência da humanidade e da sua qualidade de vida.

Precisamos ter a solução como foco em todas as mídias e na Educação. De forma geral, por que a maioria das pessoas não demonstra interesse pelo aprofundamento de assuntos ligados à solução de problemas?

Protestar é bem mais fácil. Como as soluções são mais complexas e exigem medidas jurídicas, econômicas, sociais, ações em redes interativas para atuação conjunta, dentre outros, inevitavelmente, toda solução além de exigir mais inteligência, precisa de alguma mudança de comportamento por parte de quem está no poder, na liderança de empresas e por parte também, da população. Como sabemos ninguém quer ceder privilégios, todos só pensam apenas em si mesmos travando qualquer processo de mudança de comportamento. É bem mais fácil fazer músicas de protesto, ações de rua, entrevistas ou reportagens de denuncias sem estarem acompanhadas de opiniões detalhadas de como resolver o problema denunciado. Para isso, além de criatividade precisa-se estar bem informado, consciente e, sem aquela preguiça existencial, estar disposto a realizar mudanças.

Os estudantes? Eles não têm condições de propor soluções por causa do seu pobre currículo. A atual escola não aborda, suficientemente, assuntos ligados às soluções de problemas e as disciplinas são usualmente desvinculadas da realidade. Eles não sabem como resolver porque simplesmente não praticam essa virtude.

Os profissionais? A super especialização e a linguagem excessivamente técnica provocam uma distância enorme entre uma profissão e outra (eles também foram formados em currículos alienados politicamente e fragmentados teoricamente). Os profissionais precisam lutar pela sobrevivência e não se reúnem com propósitos dessa natureza (coletiva). Normalmente, não se questiona filosoficamente o que e faz.

Os políticos? O egoísmo deles é tão patológico que eles só legislam em causa própria e passam a vida correndo atrás de comissões, cargos de poder e na sua reeleição. Se para alguma solução for necessário que eles percam alguma coisa, eles simplesmente a ignoram. A lógica do poder e manter-se no poder e conseguir mais poder (uma programação bem típica do “software mental ego”).

A imprensa? Ela está a serviço da audiência e da manipulação político-econômica. Toda solução implica em ter que ficar contra algum poder egoísta vigente. Nem toda causa pública é de interesse público. Entre a tragédia ou um debate sobre a solução de algum problema, as pessoas “adormecidas” preferem assistir as tragédias. A nossa criatividade precisa inventar alternativas para a solução passar a, também, dar ibope.

Os religiosos? Com eles acontecem três problemas. Primeiramente, eles também provêm da parte da sociedade que não teve acesso educativo às soluções de problemas (educação alienada e fragmentada). Em segundo, pode-se dizer que no Brasil, as religiões não possuem o hábito de ficarem contra os corruptos e contra os desmandos do poder. E em terceiro, identifica-se uma excessiva estimulação da relação Ser Humano - Divindade (relação vertical) e não a relação Ser Humano - Ser Humano (relação horizontal) ficando as causas sociais sem a participação direta da maior parte da comunidade religiosa e espiritualizada. Se não fossem os poucos que fazem alguma coisa, mesmo que de forma assistencialista, a população de menor poder aquisitivo etária em uma situação ainda pior.

Colocando a solução como foco, corremos o risco de resolver nossos problemas. Certamente, um mundo com a maioria dos nossos atuais problemas já resolvidos será bastante diferente do atual. A nossa forma de sobreviver, trabalhar, consumir, praticar esportes, estudar, etc., ou seja, viver sem a doutrina do egocentrismo será surpreendentemente muito mais criativa e livre.

Depois que os novos paradigmas nos deixaram sem as certezas dos nossos principais referenciais e demonstraram que era inconsistente a compreensão que possuíamos sobre como era a realidade e como a vida humana precisaria se organizar para afluir melhor, muitos de nós estão mudando como pessoa e como profissional junto com os seus conhecimentos científicos.
Tudo agora se resuma à relações entre redes. Trata-se de uma metáfora, devido à percepção da realidade como uma rede de relações interconexas, em que a existência está condicionada às múltiplas relações, representando os fenômenos observados sem hierarquias nem alicerces. A própria ciência nos ensina hoje, que tudo está em movimento e cada um de nós representa um movimento específico diferenciado, assim como um redemoinho de um rio, em que não se sabe onde um começa e o outro termina, todo o Universo seria como um grande rio em que não sabemos aonde ele começa ou aonde nós terminamos. A única coisa que se sabe é que TUDO está em movimento e que somos feitos da mesma coisa (Energia-Consciência).

Aplicando tais conhecimentos científicos, você já começou a sua mudança pessoal? A sua ciência já começou a mudar? Em que momentos a sua prática profissional está recebendo alterações concretas? E quanto ao nosso próprio egocentrismo? Podemos fazer alguma coisa? Como e quando? Que tal utilizarmos tabelas individuais com as características da que segue?



 (X)
ATIVIDADE
QUANDO?
(X)
ATIVIDADE
QUANDO?
(  )
Lerei mais sobre o assunto

(  )
Entrarei para algum grupo religioso

(  )
Entrarei em algum grupo de estudo

(  )
Farei um grupo de estudo

(  )
Participarei de listas de discussão on-line

(  )
Conhecerei pessoas com o mesmo interesse

(  )
Farei psicoterapia (individual ou em grupo)

(  )
Farei cursos nessa área

(  )
Escolherei algum tipo de meditação

(  )
Viajarei para conhecer lugares místicos

(  )
Farei militância política partidária

(  )
Não pretendo fazer nada agora

(  )
Entrarei para alguma ONG

(  )


(  )
Procurarei ter alguma experiência transcendente

(  )




Particularmente, a minha ciência está mudando na medida em que ela está sendo percebida como mais uma construção humana, mais uma cosmovisão semelhante às tantas religiões ou ciências que criamos para entender a vida ou para obter algum conforto existencial. Como construção criada por “mim”, ser humano, não posso ter apego à sua forma nem ao seu conteúdo. Tenho liberdade para alterar e recriar o que quiser. Urgentemente, a minha ciência tem que deixar de servir à minha curiosidade de cientista e passar a servir à melhoria da nossa qualidade de vida, antes que não reste mais vida humana neste planeta.

Assim como a nossa forma de pensar pode ser o nosso maior problema, a nossa nova forma de pensar poderá ser a nossa principal solução.

Sobre a minha mudança pessoal, graças ao conceito de unicidade, quem mais tem sofrido é o meu “ego”. Na maior parte do meu tempo lúcido, percebo-me como apenas mais um movimento da rede de relações interconexas, minha casa é o planeta, você e eu somos Um com o meio ambiente, plantas e animais e minha família é toda a humanidade. Como esse “nosso” corpo é muito grande, é importante reconhecermos que estamos muito doentes e não conhecemos exatamente a cura. Talvez, o mais importante seja assumirmos humildemente as nossas limitações e nunca pararmos de tentar fazer diferente até acertarmos.

No preparo das novas gerações não podemos esquecer de apresentar a vida para eles de uma forma diferente da que nossas escolas nos apresentaram.

Consensualmente, as metodologias ativas de aprendizagem estão comprovando a sua maior eficiência. Aqueles que utilizam o método de Aprendizagem Baseada em Problemas-ABP (Também na Aprendizagem Baseada em Pesquisa ABP) ou na PBL (Problem Based Learning) percebem, logo de início, a diferença de motivação, de participação e de aprendizagem dos alunos. Com diversas adaptações pelo mundo, cada instituição cria o modelo que mais se ajusta às suas necessidades de acordo com seu perfil.

Como toda solução é coletiva, o egocentrismo não tem chances de se fortalecer nas metodologias ativas. Dessa forma, resolvendo problemas desde o início de sua formação, fica bem mais motivador aprender e, também, ser um gestor e não apenas ficar decorando teorias alheias para receber notas e passar de ano em seus cursos de origem.

Comparando os dois contextos de aprendizagem:

AULA TRADICIONAL
APRENDIZAGEM BASEADA NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
O professor está no centro do ensino.
O aluno está no centro da aprendizagem.
O professor assume um discurso autoritário e centralizador.
O tutor/professor assume um discurso polêmico compartilhando poderes e responsabilidades.
Professor repassa conteúdos e alunos ficam numa relação de dependência.
Tutor facilita a aprendizagem estimulando a autonomia dos alunos (aprender a aprender).
Salas com muitos alunos (50-70) (Sistema de disciplinas isoladas – massificação).
Salas com apenas 10 a 12 alunos (Sistema de módulos integrados. Todos os cursos juntos em uma sala).
Atividades práticas só após alguns períodos (descontextualização).
Teoria e prática integrados desde a primeira semana de curso (contextualização imediata).
Aprende conteúdos para passar em exames e tirar boas notas.
Apreende conteúdos para resolver problemas reais e tirar boas notas.
A avaliação é pontual servindo para policiamento e quantificação de resultados.
Avaliação é processual servindo para readaptações imediatas e crescimento mútuo contínuo (individual e coletivo).
Há um predomínio da segmentação (individualismo).
Há predomínio da visão sistêmica (crescimento individual e coletivo).
Forma profissionais distantes da realidade, com pouca habilidade para gerenciar conflitos de interesse em equipes de trabalho. Não possui a habilidade de integrar os Três setores da sociedade.
Forma profissionais totalmente integrados à realidade, com mais habilidades para o trabalho em equipe e gestão de serviços nos três setores da sociedade (Governo, Empresas e Entidades da Sociedade Civil).
É um modelo mais fácil de ser aplicado e mais cômodo. Entretanto, mais caro e não protege contra a evasão escolar.
Inicialmente é mais difícil e exige mais envolvimento de professores, gestores funcionários e alunos. Entretanto, é mais econômico e protege a instituição contra a evasão escolar.
Postura passiva e pouco reflexiva.
Postura participativa, crítica, criativa e dinâmica.

O aluno,passivamente, segue cumprindo obrigações pré-determinadas.
O aluno faz planejamento e gestão de carreira profissional desde seu primeiro ano. Ele é estimulado a engajamentos sociais locais, redes nacionais e internacionais.
Não aprende a resolver problemas complexos (visão segmentada da realidade).
Desenvolve habilidades e competências para resolver problemas complexos (visão em rede).
É mais formal e mais repetitiva.
É mais criativa e mais divertida.

Certamente, quando o nosso SUS tiver uma mão de obra mais bem qualificada, menos egocêntrica e hábil em resolver problemas, deixaremos de ver tantos comportamentos incompetentes e desonestos em todos os níveis (Municipal, Estadual e Federal). Do mesmo modo, passaremos a ter uma população mais engajada, participante e obtendo mais e melhores resultados reduzindo todos os indicadores de problemas de saúde para patamares aceitáveis.

Que tal todos os profissionais de Saúde se sentirem fazendo parte de um mesmo corpo epidemiológico? No sentido descrito por Rouquayrol (1999), a epidemiologia é:

A Ciência que estuda o processo Saúde-Doença na Sociedade, analisando a distribuição populacional e os fatores determinantes do risco de doenças, agravos e eventos associados à Saúde, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de enfermidades, danos ou problemas de Saúde e de proteção, promoção ou recuperação da saúde individual e coletiva, produzindo informação e conhecimento para apoiar a tomada de decisão no planejamento, na administração e na avaliação de sistemas, programas, serviços e ações de Saúde”.


E ainda, paralelamente, distribuirmos melhor a realização de pesquisas participativas e pesquisas ação (THIOLLENT, 1998). Na visão fragmentada a maioria dos estudos limitam-se a coletar dados, realizar perfil disso e daquilo, fazer pesquisas de opinião, etc. Elas não abordam a solução dos problemas que tanto investigam. Tais dados terminam não sendo utilizados para coisa alguma a não ser para aprender metodologia científica e pontuar currículos de alunos, professores e instituições. Que tal em todos os estudos de levantamentos de dados, cobrarmos dos autores algum capítulo com temáticas assim: perspectivas de solução, soluções indicadas, roteiro para soluções em curto, médio e longo prazo ou ainda, metodologia de soluções a ser empregada, dentre outras, contanto que o autor, presumivelmente a pessoa mais atualizada no tema estudado, possa indicar o melhor caminho para resolver os problemas que ele mesmo identificou e aprofundou.


REFERÊNCIAS 

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